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Dez razões para promover o Esperanto



Traduzido do francês do blogue: (LINK

Artigo publicado em 4/2/2025 por Geneviève Lebouteux


Publico aqui o artigo de Pierre Vexliard, professor titular de inglês, "arrependido" como ele se auto-denomina. Achei muito interessante pois, além dos argumentos de dominação política, cultural e econômica que muitos conhecem, Pierre também traz argumentos relativos à própria língua inglesa.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o inglês se impôs como língua internacional, apesar de seus evidentes inconvenientes, e devido ao fato de que os Estados Unidos e o Reino Unido saíram da guerra como os grandes vencedores militares, em um contexto de preparação para uma nova guerra militar e ideológica contra o outro vencedor, a União Soviética.

Nesse contexto, os Estados Unidos assumiam a liderança e impunham sub-repticiamente sua língua como meio de comunicação em todo o "mundo livre".

Durante a fundação da Liga das Nações após a Primeira Guerra Mundial, o Esperanto havia sido proposto e aceito por diferentes países. Foi a França nacionalista que fez o projeto fracassar ao querer impor sua língua, que tinha conhecido seu momento de glória internacional nos séculos XVIII e XIX. Ela teve que se contentar com o título de língua oficial dos correios...

Na França, pretendia-se defender a francofonia, mas enquanto a Universidade deveria estar na vanguarda desse orgulho nacional, hoje se impõe que teses sejam redigidas e defendidas no que a mídia chama de forma inepta de "a língua de Shakespeare". Enquanto nos anos 50, na sexta série, tinha-se a escolha como primeira língua estrangeira entre italiano, espanhol, alemão e inglês, hoje é o inglês que é praticamente imposto.

O inglês? Qual inglês? Wall Street English, como diz a publicidade? "The king's English", o inglês que ninguém fala e que quase não se escreve? O americano? Qual? O de Boston ou o do Mississippi?

1 - O inglês não existe

Língua formada no cruzamento do saxão, do gaélico, do escandinavo, do francês medieval, do latim, permanecendo como língua falada por populações iletradas, livre para se forjar e evoluir ao longo dos séculos sem que nenhuma academia se arriscasse a codificá-la, língua proteiforme onde só se pode constatar, mas nunca explicar seu estado, o inglês tem, na melhor das hipóteses, conjuntos e subconjuntos de idioletos. Uma amiga inglesa que vive na França me diz: "Quando volto à Inglaterra, tenho a impressão de chegar a um país estrangeiro, tanto a língua mudou". Quando me expresso de certa maneira diante de um amigo americano do sudeste, ele zomba de mim dizendo "Ah sim, falávamos assim na Califórnia há 30 anos..."

2 - O inglês, língua manca

Para os estrangeiros que aprendem inglês, é difícil fazer equivalências gramaticais. De fato, o inglês tem mas não tem subjuntivo, condicional, futuro.

Como um deficiente que recorre a próteses para suprir a ausência de membros, o inglês recorre a auxiliares (may, shall, will, going to, que no americano falado se torna "gonna") ou a outras formas como o presente ou o pretérito para expressar o subjuntivo ou o condicional. Dependendo das épocas e lugares, o uso dessas funções é muito variável. Se os anglo-saxões têm dificuldade para se orientar, como fazem os estrangeiros?

3 - Diferentes sentidos das formas

Para considerar apenas as diferenças entre o inglês dos Estados Unidos e o britânico, a sintaxe é fonte de mal-entendidos. Por exemplo, um americano que diz "I just saw him" quer dizer "Eu acabei de vê-lo". Na boca de um britânico, isso significará "Eu apenas o vi", subentendendo nada mais que isso. Muitas formas consideradas erros na gramática britânica são comuns do outro lado do Atlântico.

4 - "Mal nomear as coisas..."

A fascinante liberdade de evolução da língua inglesa ou das línguas inglesas é um deleite para contemplar e praticar, bem ou mal, por estrangeiros. Mas dependendo de onde você está, corre-se o risco de cometer muitas gafes. Primeiro, basta consultar um dicionário para ver que cada palavra em inglês, dependendo do contexto ou local, da preposição ou pós-posição que a acompanha, pode ter entre três e dezenas de traduções. Veja a história do tradutor francês que, em 1945, encomendou milhões de toneladas de "corn" para trigo aos Estados Unidos, e acabou recebendo milho. Para os americanos, ele deveria ter dito "wheat".

Lembro-me de duas adolescentes que desenhavam juntas. A inglesa perguntou à americana se ela tinha "a rubber", para uma borracha. Mas para a americana era... uma camisinha.

5 - Ortografia e pronúncia

Se muitas línguas se questionam sobre a necessidade de simplificar sua ortografia, ou mesmo eliminar aberrações, o inglês é de longe a língua onde a ortografia menos permite determinar a pronúncia e vice-versa. A ponto de a mesma palavra ser pronunciada de forma diferente não só entre países, mas entre regiões. Um anglófono que vê uma palavra nova é incapaz de dizer como ela se pronuncia. Palavras com ortografia idêntica podem ter pronúncias totalmente diferentes. "Lead" se pronuncia "li:d" se for o verbo significando conduzir ou dirigir, "led" se for chumbo. A letra "o" se pronuncia "eou" em "go", "o" em "stop", "i" em "women", "u" (como em "tout") em "to", "e" em passion... Imaginemos uma palavra que se escreveria "ghot". Se o inglês fosse lógico, seria pronunciada "fish": "gh" em "enough", por exemplo, se pronuncia "f", "o" em "women" se torna "i", "t" em todas as palavras terminadas em "tion" se pronuncia "she".

O acento tônico também é uma terrível armadilha para os aprendizes de inglês. Assim que a palavra tem duas sílabas ou mais, onde colocá-lo? Mesmo no mesmo país, depende do lugar...

A noz pecã será acentuada na primeira sílaba e pronunciada "piiken" no norte dos Estados Unidos e "pkâân" no sul. Poderíamos multiplicar os exemplos infinitamente.

6 - Aprendizagem

As particularidades mencionadas acima tornam impossível ensinar inglês.

Os únicos não anglófonos nativos que conseguem falar essa língua de forma a passar por "native speakers" a aprenderam fora de um sistema escolar ou universitário, em um ambiente linguístico intenso durante vários anos. Basta ver o número de cidadãos americanos que, tendo imigrado há várias décadas, ainda falam com no mínimo um forte sotaque, quando não em uma língua minimal cheia de expressões que os identificam como estrangeiros.

Na França, Jack Lang teve a ideia "genial" de ensinar uma língua estrangeira desde o primário. Evidentemente, em mais de 90% dos casos essa língua é o inglês. Ensinado seja pelo professor primário que absolutamente não a domina, seja por professores do secundário fazendo pequenos trabalhos temporários e que não têm uma pedagogia adaptada a crianças pequenas, seja por anglófonos residindo na França que não têm nem a pedagogia, nem uma língua isenta de particularismos regionais ou nacionais. O resultado é frequentemente pior ao chegar ao nível do baccalauréat do que para alunos do ensino médio que não tiveram iniciação no primário.

A falta de regras confiáveis para a ortografia, pronúncia, gramática, confunde e desmotiva rapidamente as crianças que logo desistem. A lógica (?) da língua não oferece nenhuma comparação com outras estruturas linguísticas, em particular a do francês. Tentar estabelecer uma regra expõe a apresentar dezenas de exceções.

O professor em final ou meio de carreira ensina uma língua já obsoleta.

7 - Imperialismo e racismo linguístico

Em um diálogo ou uma conversação, estabelece-se naturalmente uma hierarquia entre aquele que joga em seu terreno e aquele que tenta se aventurar nele. O anglófono se sente naturalmente superior ao estrangeiro que domina mal sua língua. É uma relação colonizador/colonizado, mestre/servo. O inglês conversando com o francês terá a mesma condescendência que o francês em conversação com o argelino.

A língua do colonizador tem a reputação de ser "chique". Tanto que florescem na França as placas em pseudo-inglês, os jogos de palavras vazios com "hair" para cabelereiros, e os ineptos apóstrofos+s ("PULL'S", "FRINGUE'S", "COURANT D'HAIR'S" etc.), ignorando a origem e a função de um genitivo em "es" herdado do saxão, marcando a posse, e onde o apóstrofo é um substituto do "e".

Seria preciso também falar da atração do inglês pela música. É verdade que a métrica da língua inglesa se adapta melhor à música que o francês, cuja ausência de acento tônico dá em comparação uma impressão de monotonia. A tal ponto que no rap francófono, por exemplo, os intérpretes introduzem sistematicamente um acento tônico na penúltima sílaba, mas é tão mais "trendy" tocar guitarra sobre os repertórios de além da Mancha e além do Atlântico, ou até compor diretamente em inglês em torno de três palavras formando vagamente frases!

Para o mundo dos negócios e da "tech" criou-se uma forma de inglês empobrecido, o "globish", cuja relativa simplicidade apaga apenas superficialmente os inconvenientes de sua origem enquanto suprime a verdadeira riqueza da incomparável literatura anglófona.

8 - E a Europa, e a ONU?

Não é paradoxal que entre os eurocratas de Bruxelas e Estrasburgo a comunicação interna e externa se faça em inglês, enquanto o Reino Unido bateu a porta e os Estados Unidos se comportam quase como adversários?

O inglês, língua eminentemente ambígua, talvez se preste a compromissos mas sobretudo a mal-entendidos que só agravam os conflitos. Veja a resolução 242 de 1967 do Conselho de Segurança da ONU após a guerra dos 6 dias: "Withdrawal of Israel armed forces from territories occupied in the recent conflict", que pode ser compreendida como OS territórios ocupados (portanto a totalidade) ou ALGUNS territórios ocupados (portanto uma parte, mesmo que ínfima).

9 - Monolinguismo dos anglófonos

Considerando que o inglês é internacional, os anglófonos aprendem cada vez menos línguas estrangeiras. Nos Estados Unidos, o fato de falar bem uma língua estrangeira, como Antony Blinken, por exemplo, é suspeito e uma desvantagem em uma carreira política.

Falar uma língua estrangeira é abrir-se a outro sistema de pensamento, é desenvolver uma tolerância em relação à diferença, descobrir as raízes comuns às línguas como às civilizações, respeitar o outro, abordar sua literatura sem passar pela tradução. É disso que se privam os monolíngues que se fecham na convicção de sua superioridade e desembarcam nos países estrangeiros contando serem compreendidos em toda parte.

10 - E o Esperanto nisso tudo?

Diante de todos esses inconvenientes, parece evidente que o uso generalizado de uma língua neutra, fácil de ensinar, com regras imutáveis, com pronúncia sem ambiguidade em relação a uma ortografia simples e clara é a solução.

Utopia? É uma questão de vontade política. Israel conseguiu fazer de uma língua morta com um modo de escrita bem mais difícil de dominar ("para mim, é hebraico"), uma língua viva do cotidiano.

Ao ajudar desde a infância na compreensão e função de uma língua diferente da sua, o Esperanto não dispensa o aprendizado de línguas estrangeiras reais, ao contrário, facilita seu aprendizado. Seu caráter lúdico não tem o aspecto desencorajador do inglês, uma língua que ninguém, incluindo aqueles que a têm como língua materna, domina realmente.

A solução seria o ensino do Esperanto no primário por professores das escolas que podem facilmente aprendê-lo enquanto o ensinam no dia a dia, para chegar a torná-lo a língua de comunicação obrigatória em escala europeia antes de fazê-lo, pelo exemplo, ser adotado no mundo inteiro. É muito provável que os Estados que recusam a dominação política e cultural anglo-saxônica estariam prontos a se associar a isso.




[1] Um amigo de Los Angeles me diz que compreende melhor Shakespeare traduzido em francês do que na versão original... O inglês evoluiu muito mais desde o século XVII do que o francês.


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